Criminosos do Comando Vermelho (CV) tentam cercar o Complexo de Gericinó, conglomerado de 22 unidades prisionais localizadas na Zona Oeste do Rio de Janeiro, segundo um relatório da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). O objetivo seria tomar os bairros próximos e formar um cinturão ao redor dessas unidades. Nelas, estão custodiados os principais chefes do grupo criminoso. Essas áreas são utilizadas para práticas ilícitas, como arremesso de drogas e de celulares para dentro das prisões, e podem servir como instrumento para facilitar possíveis fugas.
O complexo de favelas que o CV tenta montar seria composto pelas comunidades de Jardim Bangu, Catiri e Vila Kennedy. As duas primeiras têm sido alvo constante de invasões por parte da facção, causando pânico entre os moradores da região com intensos tiroteios desde o início do ano.
A escalada de conflitos no entorno de Gericinó fez vítimas no próprio complexo. Em 19 de novembro deste ano, uma enfermeira foi atingida por um tiro no braço no Hospital Penal Hamilton Agostinho Vieira de Castro. Ela estava na parte externa da unidade de saúde quando foi atingida. O projétil chegou sem força suficiente para causar ferimentos graves.
Base para saída de bondes
A Vila Kennedy, que já está sob controle do CV, funciona como uma das bases de saída para os “bondes” que realizam as invasões. Os traficantes utilizam a área de mata entre as comunidades para atravessar, fortemente armados, e realizar os ataques.
Para consolidar o domínio da região, os traficantes do CV teriam a ajuda de uma antiga facção rival, a Amigo dos Amigos (ADA). Segundo o relatório, os criminosos do CV são apoiados por um grupo denominado Tropa do Celso, em referência a Celso Luiz Rodrigues, conhecido como Celsinho da Vila Vintém, que está em liberdade desde outubro de 2022.
Tentativas de fuga
Segundo o relatório, o CV já tentou realizar diversas fugas nas unidades prisionais do Complexo de Gericinó, que abriga cerca de 25 mil presos. Em setembro, agentes descobriram a construção de um túnel no Instituto Penal Vicente Piragibe, que seria utilizado para uma fuga em massa. O plano não foi executado porque os internos aguardavam a progressão de regime de chefes do alto escalão para colocá-lo em prática. Os agentes descobriram a estrutura.
O túnel foi construído em uma área de terra onde funcionava a horta do presídio, já desativada. O local dava acesso à tubulação de esgoto usada para fuga de 27 detentos em 2013. Após a descoberta, o secretaria decidiu transferir 14 chefes do Comando Vermelho para a penitenciária de segurança máxima Laércio da Costa Pellegrino, conhecida como Bangu 1.
Relatório aponta vulnerabilidades
A possível fragilidade das unidades também é objeto do relatório da Seap. No documento, a secretaria também demonstra preocupação com o repasse de informações de presos que saíram recentemente das unidades penitenciárias. “Esses indivíduos conhecem todo o funcionamento das unidades prisionais, suas vulnerabilidades e, até mesmo, possíveis servidores com desvio de conduta”, afirma o relatório.
O documento lista pelo menos dez lideranças que obtiveram liberdade em 2024, entre elas Elizeu Felício de Souza, o Zeu, ex-segurança de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, e Wilson Michael Costa Soares, chefe do Morro do Banco, no Itanhangá.
Denúncias anônimas
A Seap recebeu pelo menos três denúncias sobre movimentações de criminosos para realizar fugas em Gericinó. Em outubro, uma denúncia apontava a presença de cerca de dez traficantes armados escondidos na mata entre os fundos do Campo de Instrução de Gericinó, de propriedade do Exército, e o presídio. “Suspeita-se que eles tenham a intenção de auxiliar na fuga de presidiários”, diz a denúncia. Os criminosos estariam no Conjunto Habitacional Recanto das Garças, controlado pelo CV.
Em dezembro, outra denúncia informou que presos estariam tentando construir um túnel de fora para dentro para realizar uma fuga durante as festas de fim de ano. Para concretizar os planos, eles estariam tentando dominar o espaço da Estrada General Afonso de Carvalho para se aproximar ainda mais dos presídios e realizar os resgates.
Várias varreduras foram feitas com apoio da Polícia Militar, e nenhuma estrutura de túnel em construção foi encontrada na região.
Preocupada com a segurança do complexo penitenciário, a Seap informou que intensificou as rondas no interior do complexo. A inteligência da secretaria também realizou o mapeamento e controle dos pontos mais vulneráveis e reforçou os procedimentos de segurança, especialmente nos presídios que abrigam as principais lideranças do CV, como o Presídio Gabriel Ferreira Castilho e o Instituto Penal Benjamin de Moraes Filho.
Em nota, o Comando Militar do Leste informou que o Exército Brasileiro realiza “patrulhamento constante, reconhecimentos e diversas operações na área do Campo de Instrução de Gericinó, como medidas de segurança e presença constante.” Eles também afirmaram que os órgãos de segurança pública interagem com o Exército na troca de informações, apoio logístico e em outras demandas de segurança “sempre que necessário”.
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